Poemas

não
Não, não quero envelhecer sozinho,
sozinho basta a morte,
a morte…
mas enquanto escrevo,
escrevo,
vou aprendendo a morrer…

in "antes e depois", Augusto Canetas

 

Fluir
Obstinado em aprender
um dia morrerei
sem saber
que a minha ignorância
possuía valor.

in "antes e depois", Augusto Canetas

                                                                

sem saber
Obstinado em aprender
um dia morrerei
morrerei sem saber
que a minha ignorância possuía valor.

in "antes e depois", Augusto Canetas

 

mãe, nunca é tarde!
Mãe, hoje achei no baú dos nossos retratos,
aquela tua inquieta foto que me enviaste e dizias:
- meu querido filho, esperamos por ti são e salvo -
quando eu imberbe
estava a servir uma barbárie guerra em África!
Lembras-te?
Nunca te disse, dizer não bastava,
não precisava,
porque amava-te, já o sabias.
jamais é tarde quando as estrelas nos procuram
para nos contar verosímeis, bonitas verdades...
mas me sobreveio, agigantei-me mãe,
porque cresci e ao crescer,
cresci sozinho
fora do teu aconchegado sofrimento!
possuo a tua foto nas minhas mãos, mãe!
o meu coração treme com o teu idolatrado olhar,
o teu sorriso incomensurável, seguro e sereno,
fico a pensar:
- ninguém sabia de nós,
só nós dois em silêncio existíamos,
tu bem me conhecias,
apenas tu sabias de mim, como foi lindo!
mas nunca é tarde mãe,
sinto uma enorme vontade de te abraçar!
Prometo não me esquecer.
gosto muito de ti!

in "antes e depois", Augusto Canetas